Três Municípios por uma Região

O pequeno “Reino do Algarve” foi disputado entre Castela e Portugal até que em 1267, pelo Tratado de Badajoz, ficou definitivamente incorporado na Monarquia Portuguesa. Os reis de Portugal, desde D. Afonso III, passaram então a intitular-se também reis do Algarve, até que pela Revolução de 5 de Outubro de 1910 – cujo centenário se celebra – o “Reino do Algarve” se tornou uma “Região” da República Portuguesa.
“Reino” durante quase seis séculos e meio, “Região” desde há exactamente um século, sempre todavia o Algarve manteve uma individualidade inconfundível e distinta adentro do restante Portugal Continental. Com efeito, o rectângulo algarvio demarca-se perfeitamente a norte pelas serras que de Odeceixe ao Vascão o separam do Alentejo; a oeste e a sul pelas costas ora de arribas escarpadas ora arenosas que abrem para o grande mar Atlântico e são antecâmara do Mediterrâneo; e a leste pelo Guadiana, linha de fronteira com Espanha.
Terras de fronteira são assim Alcoutim, Castro Marim, Vila Real de Santo António. Cada qual com suas especificidades, essa comum condição fronteiriça confere-lhes comunidade de destino. Praças militares e baluartes defensivos foram Alcoutim, a montante da foz do Guadiana, e Castro Marim, já perto dela, sem que todavia deixassem de ser focos de intenso intercâmbio de pessoas e mercadorias com a outra margem do rio. Por seu turno Vila Real de Santo António reflecte em novos moldes essa dupla tensão defensiva e comercial. Vilas medievais as duas primeiras, cidade iluminista a última, todas três se definem pelo Guadiana e, neste limiar da segunda década do século XXI, todas três concorrem decisivamente para que o nosso magnífico rio peninsular se reconduza à sua lídima vocação de via natural de comunicação e agente propulsor do progresso económico, social e cultural.

Comissário científico das exposições
António Rosa Mendes